Seguidores

domingo, 5 de dezembro de 2010

Temo o dia do infortúnio


Temo não poder mais lhe escrever versos nus,

Temo haver de me cobrir toda de panos crus.
Temo não beijar mais os dedos ásperos de suas mãos,
Temo também não ter chão para cair
Quando cair a tempestade.
Vou cultivar flores para elas me entreterem,
Vou pixar meus muros sem palavras de desespero,
Mas realmente temo o dia
Em que não mais te verei aqui.

E então, meu bem,
Vou sair mundo afora gritando absurdos,
Vou dizer que meu mundo foi queimado,
Estrangulado a sangue frio.
Pois tiraram-me o que respiro,
O que me renova as energias todo dia.

Louca, feito um redemoinho,
Irei arrasar vilarejos inteiros com meus gritos,
Pedindo sem parar a tua volta,
o teu corpo, a tua alma
e o tempero indispensável da minha vida.

Não negarei meus distúrbios, não negarei minha ira,
Mas me recusarei ao tratamento desse amor,
Que é vício, delírio e dor.
Me recuso a te esquecer,
A te apagar do meu livro de receitas,
Me recusa a ser outra pessoa.

Temo o dia desse infortúnio...
Prefiro a poesia calma da menina amada
nas tardes quentes e ventiladas pelas hélices do arno.

Jane Santos