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quinta-feira, 11 de junho de 2015

Desencontros íntimos



Ontem mesmo era-me aqui
A experiência do arrepender-se.
Movimentos bruscos, de açoite à alma
Sacudidos pelas curvas transversais dos dias
Trouxeram-me uma taça de angústia
Profunda, dolorosa e amarga.
Traguei.
Traguei junto às lágrimas que se avivaram.
Psicóloga de mim mesma
Não consegui achar-me.
Sem acalantos de outros
Não detectei os agravos
E no instante da culpa,
Manifestou-se apenas ela
E um emaranhado de indefinições.
Apenas a culpa e um pouco de saudade
A culpa e o cansaço do labor
A culpa e a insatisfação do amor
A culpa e o vazio.
A culpa.

Fechou-se então a garganta
Porque nela gritos morreram.
Por que gritar
Se me parece o pesadelo..
E ninguém ouve?

Resta-me remoer por mais umas semanas
Esse torpor que se instala,
Aguardar a chegada de algo oposto
A tudo isso.
Era-me ontem, a essas horas de agora
Um caldeirão em mim mesma de desencontros íntimos
De infelicidades cobertas a risos de vendedor.
Se consertarei esses desacertos
É certo eu desconhecer.
Não sei.
Quem sabe?
Só Deus sabe....
Esse Deus que me empresta a vida
Linda
Mas nem tanto.
Tantos desencontros de mim mesma
Com  meus próprios discursos.
Usos indevidos no meu próprio mundo
Mudando. Indefensável.
Pairo nesse quadro escurecido
Sob a túnica pesada dela
A culpa.
A culpa e o temor
A culpa e a vaidade borrada
A culpa e a juventude que se atrasa
A culpa e a boca fria
A culpa.

Resta cortar-me aos poucos
Dessas mil e tantas impurezas
Que se acomodam nal'ma.
Resta-me ter calma, para achar-me 
Nas esquinas do foro particular.
E amar... porque eu só quero amar.

Jane Santos



segunda-feira, 8 de junho de 2015

As peças de amor



Fizeram-me um dia de amor.
Genética adocicada que fabricaram um dia!
Fizeram-me um dia de amor.
E em mim cabem tantos!
E tantos nem tanto,
Extrapolam e vazam
E se descobrem em outros cantos por aí.
Fizeram-me um dia com olhos
Pra ver as flores do jardim
E achar que elas eram lindas
E amar também.
Fizeram-me um dia com ouvidos
Pra ouvir melodias finas
E achar que eram dignas
De se querer bem.
Fizeram-me um dia com mãos
Pra tocar outras tantas
Em apertos, em carícias, em trocas outras.
Fizeram-me toda de sentidos
Pra sentir o mundo que está
E as pessoas que são.
E à toa ando pelos caminhos
A amar corações duros, moles,
Dedicados, negligentes,
Cuidadosos, impacientes,
Carinhosos, inconsequentes.
Ando a amar porque não se paga
E se ganha muito!
Sem amor eu nada seria!
Sem amor eu me arrependeria mais que já me ocorre.
Sem amor não venceríamos a morte,
Sem amor seríamos minúsculos.
E o impulso para o outro seria fracasso.
Sem amor, os casais não fariam filhos,
Sem amor, a caridade não haveria,
Sem amor, sorrisos não sorririam
Nem olhares se tocariam,
Nem bocas se beijariam,
Nem mãos se animariam,
Nem nada que o amor dá.
Sem amor eu nada seria!
Seria um saco.
E por um dia terem me feito com peças para amar
É que o faço e tento mais ainda
Por não ser fácil, tento mais ainda.
E vou, usando as peças...
Sem que nada me impeça,


Pois me é de agrado.

Jane Santos

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Amor do mundo


o amor me faz esquecer das dores que sinto
no corpo e na alma
me faz entrever horizontes azuis
e possibilidades de ser feliz, me acalma
me faz enxergar cidades de luz e flores
e diz que o mundo é mais
que montes de pedra e  insensatez
a beleza do amor, a força do amor
a melodia do amor
é assim um encanto e me faz rir
é um recanto e me faz ir
buscar pessoas
assim que abracem e chorem
porque mataram seus medos
e pularam cercas, afins
sem muros, sem rédeas, sem senhas
o amor me faz crescer
e de passos largos pelas relvas
meus pés me deixam ser
mais que mortal insignificante
mais que massa modelável errante
o amor me diz que há chances de sermos mais
que passantes.
estou disposta a estar disposta e amar
mesmo que doa
porque a dor também ensina
embeleza, lapida
e nos torna fortes como rocha

Jane Santos

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Poesias feitas num canto


Poesias feitas num canto
São alento ou desencanto
Que entraram pela janela.
São sorrisos e lágrimas que regaram flores
Ou são palavras que doeram ao peito
Ou marcaram um olhar.
Poesias feitas num canto tem cheiro
Ora de bocas beijadas
Ora de flores regadas
Ora de sentinelas veladas
Ora de felicidade ou de dor.
É cá um tanto de coisas que se acumulam
Na beleza do vivenciar o mundo
As pessoas
Si mesmo.
É lá um tanto de sentimentos
Que inútil é guardar no peito.
Melhor deitar sobre o papel quieto
Agora inquieto com tanto sentir.
Chorar sorrir. Vida.
Poesias feitas num canto tem cheiro
De gente que se quer e não se pode
De ato que aja mas não se note
De mulher amada mas escondido
De homem desejado mas proibido
De livro bom mas não lido
De comida boa mas não comida
De camarão mas alergia
De gargalhadas mas engasgos
De correria mas quedas
De sucesso mas preço
De caridade mas renúncia
De isso e aquilo e tudo e mais um pouco.
Porque poesia não dá se não tiver motivo
Nem que seja nada colorido
Ou que seja totalmente cor.
Tem que haver razão seja lá qual for
Num canto,
Sentindo a dor da perda
A lisura da seda
Ou a saudade de um amor.

Jane Santos