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terça-feira, 15 de junho de 2010
Quem sabe um dia...
terça-feira, 8 de junho de 2010
Poema de sexta-feira
segunda-feira, 7 de junho de 2010
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domingo, 6 de junho de 2010
Movimento
Todo dia o mesmo café
Meu amigo fantasma
Sangue em solução
Corre na veia um sangue.
Meus tataravós correm em mim.
Pai e mãe.
Marcam em meu corpo
Traços passados.
Mil e novecentos, oitocentos,
Índio, negro. Portugal.
Unhas, olhos, boca, face. Língua.
Corre na veia um sangue.
E que farei daqui em diante?
Misturarei este sangue,
Farei nova solução do seu vermelho.
Aqui e ali, cidades e vilarejos.
Cada sangue colherei para formar
Mais um.
Pois eu sou, eu serei, eu serei, eu serei.
Eu mãe. Eu tataravó.
Marcarei meus traços, os teus traços
Em corpos diversos, branco, preto...
Transparente.
Pois quem sabe acabe aqui,
Tu e eu. Quarto, parede.
Quem sabe nosso sangue seja solução,
Mas quem sabe também não.
Que os livros de história
Ou conto de fada
Possam nos traduzir.
Jane Santos
Sons e palavras quentes
Flores e canções para ti,
Um violão à janela,
Na madrugada quieta
Desenhando-me poeta para ti.
Canto-te tua beleza inebriante,
E aos goles de aguardente,
Deliro um prazer subjetivo,
À tua imagem, em suspiros,
Feito boêmio renascido
Com sons e palavras quentes
Nos dias de frio da modernidade.
Mas flores ofereço à tua linda
E inspiradora singularidade.
Feito fada de roupa esvoaçante,
À janela,
De mãos inquietas,
À espera antiga dos ramos
Simples do caminho.
Mas com todo meu carinho,
Beijar-te-ei os dedos finos e trêmulos,
E ousarei um olhar mais intenso,
E ousarei um beijo à face lisa.
E ofereço ainda cartas,
Feito boêmio renascido
Com sons e palavras quentes
Nos dias de frio da modernidade.
Jane Santos
As vértebras do meu amor
O meu amor sustenta-se
Com teu olhar,
Que vasculha cada canto
Do meu olhar.
Vasculha os reflexos,
O branco e o preto
Do meu olhar.
E o amor que crio
Sustenta-se com as insinuâncias,
Com os convites sem verbos,
Sem concordância,
Com os nossos risos sem fim.
Sustenta-se na tua mão em mim,
Em minhas mãos.
Todas elas se procurando,
Numa carícia ali e aqui,
Rondando pra lá e pra cá,
Nos meus cabelos,
Dedos trêmulos,
Nos meus dedos,
Dedos frios
De medo.
E o nosso amor se alimenta
Desse diário, desse contínuo,
Numa vida igual, e com sentido,
O sentido dos teus beijos, do teu cheiro,
Do teu nome.
O sentido de te amar intensamente.
Jane Santos
Fim de tudo
Não há mais tempo para
Contar histórias,
Tu bem sabes que o fim já chegou.
O fim da linha, do crochê, o fim do amor.
Que mais deveremos de tentar,
De criar, de omitir?
Que mentiras farão sentido agora?
Bem sabes tu que chegou o fim.
O fim do começo, o fim do meio,
O fim de mim.
Bem sabes tu que a música não toca,
Que a roda não roda,
Que a água não ferve.
Que pedras haveremos de jogar?
Que pragas haveremos de rogar?
Para quem?
Tu sabes muito bem
Que o som não ecoa,
Que o vento não sopra
Que o mar não se enfurece.
Ah! E como isso me entristece.
A terra vazia. As gentes vazias.
A história sem letras.
E como isso me é deserto.
E como isso me entristece!
Jane Santos
Retalhos
Retalhos da minha alma
Demonstram minha angústia.
Despedaçados na sala,
Na cozinha da casa,
Na área de serviço.
Sobre os móveis imóveis,
As colchas retalhadas,
O chão e o brilho.
Retalhos da minha alma
Destroem minha libido
Limitada ao ouvido,
Limitada à porta de saída.
Retalhos coloridos
Escurecem despercebidos a cor
Das minhas maçãs.
Os cabelos escorridos,
Negros indecisos
Se esvaem no colchão.
Retalhos das minhas lágrimas
Vão molhando minhas malhas
De camisola curtíssima.
Pouco a pouco, tristíssima.
Superlativamente perdida
Na imobilidade escurecida
Da solidão.
Na sala, no fogão.
Jane Santos