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segunda-feira, 28 de maio de 2012

O colo



Diante da tua beleza
Eu me extasio,
Eu entro em torpor
E me perco já
Entre as lágrimas
Muito doces de te amar,
Entre os soluços
Muito leves.
Porque tu és o sol,
A água límpida da corredeira,
És a minha videira
Repleta de bênçãos
E canções de ninar.
Já não há dor,
Pois ela se esvai inteira
Quando vejo
O teu serzinho
Todo acolhidinho
No meu colo farto e bom.
Já não há medo,
Os monstros da madrugada se foram,
Ficaram as flores do nosso amor
A perfumar
Os pormenores de nós.

Jane Santos

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Fera doce e perigosa



Olhe bem o mundo,
Ele é o muro maior que conheceste,
Não concebeste antes coisa tão enorme e poderosa,
Na matéria é o que nos põe temor.
Olhe bem o mundo e perceba sua alma,
É o montante de gente
Que não se acalma
E perturba a noite.
É um chão que se acaba no magma,
É uma das grandes mágicas de Deus.
Olhe quão impressionante é seu semblante,
Quão grande é sua silhueta,
Feita de morrinhos e cordilheiras,
Imponente e gigante.
Olhe bem os mares, olhe bem os montes,
Esses ares todos da atmosfera,
É quase tudo isso uma fera adormecida,
Mas não se engane,
Ela é demasiado doce e perigosa,
Um felino em terra, fogo, ar e água
A desabar por todos os lados,
Sustentada pela gravidade.
Mas a gravidade maior, meu filho,
São os pés e as almas que percorrem esses vales,
São os anjos e demônios que degladiam entre si
Por um lugar ao sol,
Esse imenso outro mundo que nos ilunina,
Permitindo o nascer de cada dia,
A beleza e o esplendor de espanto
Que é próprio da criação divina.
Vá, enfrente essa fera,
E como arma de guerra use o amor.
Não te desnudes dele
E nunca finjas não tê-lo.
É contendo amor que vencerás o medo
De habitar o planeta Terra.

Jane Santos

O ser



Se me perguntam a razão,
Digo apenas o silêncio que me compõe.
Por trás dessa pele
Nada mais que silêncio,
Nada mais que irrespostas prontas e isoladas
Do contexto.
Minhas linhas de expressão de fato são reais,
Acumulam-se dia após dia,
Experiência uma e outra
Que se desencadeiam indefinidamente
Até quando meu corpo permitir.
Mas não creia essa calma toda ser a consolação,
Ela é mais uma forma de suportar as dores
Que carrego.
Dores só minhas,
Assim como as suas,
Que só você compreende e permite a entrada.
Essa calma,
Essa água sem ondas e sem peixes,
É mais um caminho covarde
Que meu espírito imperfeito faz valer.
Sem distinguir o bastante
O que é bom, o que não é.
Remoendo as perdas, por dentro,
Construindo sonhos nada monumentais
E deixando a água correr,
Porque neste mundo,
Mesmo com todas as cartomantes
E os signos do zodíaco,
Não dá para ter certeza do futuro,
A não ser quando este chega a cada minuto,
A cada surto psicótico
Muito comum a mim
No início de cada dia.

Jane Santos