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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Nirvana




Enquanto você corre
Eu te amo além das forças,
Eu vivo o intensivo
Do lado a lado com você.
Do sentimento adocicado,
Da mão colada,
Do beijo bom.
Enquanto você sonha,
Eu realizo aqui o instante,
O fato de estar perto,
O corpo, a face, o peito,
Marcando à tinta de batom.
Enquanto a noite se espalha,
Aqui a calma se derrama,
Perde o tempo,
Pede o momento,
Me embala, me afronta.
Enquanto lá fora é dinheiro,
É direito, é norma,
Aqui é carinho, apego,
É pulsar sem hora,
É ser e estar
Mais ato e menos verbo,
Mais fato e menos “espero”,
É a coisa do amor que toma posse,
Que coloniza o meu ser.
Enquanto tudo o que se faz e tudo que se pensa
Aqui é mais carne, é mais sangue,
Coração, transfusão, romance.
Doação do que se é,
Do que se pretende,
Do se crê.

Jane Santos

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Quarto da bagunça


O quarto da bagunça está mais belo,
Pois nele entro e me espero um pouco,
Espero a coragem, o efeito do remédio
Anti-mofo.
Nele assim me permaneço, 
Minutos como se fossem eternos,
Horas como séculos,
E as caixas,
Todas elas espalhadas,
Enfeitadas com a poeira do tempo.
Umas flanelas serão ajuda indispensável,
Além da força que deverei fazer brotar,
Para cascavilhar os textos desbotados,
As agendas cafonas,
Os marcadores amarelados.
Deverei fazer surgir a calma,
Para decidir o que fica e o que vai,
O que importa e o que já morreu.
Mas quem alimenta o sentimento da relíquia
De tudo acha que precisa,
Um recorte de jornal, algo que escreveu.
Tudo acha ser grande e glorioso.
E sonha ser um dia 
Um vulto importante,
E tudo aquilo será o tesouro
Do historiador que te busca
Para te depositar na estante,
Como obra de artista.
Mas por enquanto, apenas poeira,
Apenas fuligem.
Tudo adormece na sua insignificância,
Na caixa do quarto da bagunça que eu não irei organizar.

Jane Santos