Na tua inseparável solidão
Podes conviver com tua dor
Ninguém mais, mesmo que tente
Ninguém para além de teus motivos
De tuas perdas ou ganhos,
Poderá suportar, rever contratos
Os amigos te manterão distraída
O trabalho te trará certo repouso
Mas ela estará lá, intacta
À espera de novos encontros
Novas lamentações de algo
Quando houver novo encontro
Pega tua dor e um carinho faça
Uma hora ela deixa cair o peso
Uma hora ela fará sentido
Deixa-te um pouco se macular
Deixa a alma padecer uns intantes
E sofre a dor, sem apontá-la o dedo
Entrega-te à profunda análise
De ti mesmo e dos próprios passos
Pergunta à tua vida algumas questões
E as respostas venham mesmo que custe
Se os planos morreram, enterra-os
Vela-os o tempo que for preciso
Deposita flores em seu túmulo
Apesar de lamentar a sua morte
Mesmo que ainda venham outros tropeços
Outros desgostos e gostos também
Deixa viver tua humanidade
Não te curves ao pensamento
Que te coloca inerte frente à vida
Tu és ser, indivíduo do mundo
E que ainda não acertou com a trilha
Mas vai, olhando para trás
É resultado de tuas fraquezas, tuas
bobagens
No chão se deitam tuas mágoas
E observa o horizonte céu azul
Largo, ele te mostrará o tempo
E este cuidará bem te tuas máculas
Mesmo que elas continuem lá
Esperando um novo encontro
Ou mesmo sorrisos de conformação
Hoje choras sobre tua comida
Junto às águas do chuveiro
Te reportas, por dentro te recortas
Te recolhas uma hora e chora
Tu de nada sabes e só és nesse mundo
grande
Mastiga os ossos das desilusões
E sobre eles constrói os teus museus
Deposita neles teu passado
E ao redor inventa flores
Para colorir teu recomeço
Outras dores virão ao longo do percurso
E depois te erguer alto e forte
Te reconstrói das cinzas, criatura
Nada sobrará além de lembranças
Que alfinetarão vez e outra tua
felicidade
Há por demais sorrisos e mãos e olhares
Um dia sim todos se te abrirão
E as dores ficarão mais quietas