Seguidores

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

As dores


Só tu, criatura
Na tua inseparável solidão
Podes conviver com tua dor
Ninguém mais, mesmo que tente
Ninguém para além de teus motivos
De tuas perdas ou ganhos,
Mesmo que queria
Poderá suportar, rever contratos
E tecer outros panos
Os amigos te manterão distraída
Vez e outra que der
O trabalho te trará certo repouso
Mas ela estará lá, intacta
À espera de novos encontros
Novas lamentações de algo
Que não mais se muda.
Quando houver novo encontro
Pega tua dor e um carinho faça
Uma hora ela deixa cair o peso
E tu andarás mais leve
Uma hora ela fará sentido
Mesmo que preciso seja
Por dentro se rasgar
Rasga o que for preciso
Deixa-te um pouco se macular
Deixa a alma padecer uns intantes
E sofre a dor, sem apontá-la o dedo
Entrega-te à profunda análise
De ti mesmo e dos próprios passos
Pergunta à tua vida algumas questões
E aguarda
Certo é que a dor passe
E as respostas venham mesmo que custe
Se os planos morreram, enterra-os
Vela-os o tempo que for preciso
Deposita flores em seu túmulo
Para que perfume
O restante da caminhada
Oferece bons fluidos
Apesar de lamentar a sua morte
Começa de novo.
De novo começa
Mesmo que ainda venham outros tropeços
Outros desgostos e gostos também
Deixa viver tua humanidade
Não te curves ao pensamento
Que te coloca inerte frente à vida
Tu és ser, indivíduo do mundo
E que ainda não acertou com a trilha
Mas vai, olhando para trás
Para errar menos
A dor que vem
É resultado de tuas fraquezas, tuas bobagens
Teus insultos à sorte
No chão se deitam tuas mágoas
Mas levanta o olhar
E observa o horizonte céu azul
Largo, ele te mostrará o tempo
E este cuidará bem te tuas máculas
Mesmo que elas continuem lá
Intactas
Esperando um novo encontro
Regado a lágrimas
Ou mesmo sorrisos de conformação
Hoje choras sobre tua comida
Sobre teu travesseiro
Sobre tuas leituras
Junto às águas do chuveiro
Te reportas, por dentro te recortas
Te recolhas uma hora e chora
Culpa-te
Perdoa-te
Tu de nada sabes e só és nesse mundo grande
E há tantos outros ainda
Mastiga os ossos das desilusões
E sobre eles constrói os teus museus
Deposita neles teu passado
E ao redor inventa flores
Para colorir teu recomeço
Teu futuro
Não há uma só flor
Não há um só amor
Nem uma só dor
Outras dores virão ao longo do percurso
E dentro de todas elas
Permite doer
E depois te erguer alto e forte
Te reconstrói das cinzas, criatura
Feito fênix te remonta
Nada sobrará além de lembranças
Que alfinetarão vez e outra tua felicidade
Mas há por demais tempo
Há por demais chances
Há por demais sorrisos e mãos e olhares
Um dia sim todos se te abrirão
E as dores ficarão mais quietas

Em seus devidos lugares.

Jane Santos

Nenhum comentário: