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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Escriba



Não me roubem as palavras,
Elas são um calço na existência.
Permitem eu ser importante, gigante,
Não me deixam morrer.
Não me tirem esse bem que me faz bem,
Que permite a poesia quando se menos espera,
Que deixam acontecer a festa no meu sobrado,
Que sobrou da rua no fim da cidade,
Ao lado de um bocado qualquer de casas.
Elas me trazem a paz que não se compra,
Elas são a minha pompa,
O que de melhor posso oferecer,
Com rimas, ou com besteiras a se dizer,
Só pra não cansar do todo-dia-toda-hora.
As palavras são a glória desse espírito infame
Que inventou de ser poeta
Num mundo que passa e segue,
E não vê e não se embebe
Como nós sonhamos no fundo.
Livros vendidos. Multidões de leitores.
Nome na mídia. Dinheiro no bolso.
Que tolos somos nós,
Poesia não dá salário,
Só afago no peito que quer se esvaziar...
Uma taça, por favor.

Jane Santos

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