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terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Tempos de pequena


Saudade sinto mesmo
De quando eu podia brincar,
Correr no terreiro lá de casa,
A casa de meus avós.
Casa de taipa,
Barroca caindo no chão,
Teto bem baixo,
Mas que ainda acho
Ter sido o melhor casarão.
Naquele tempo não tinha poste,
Mas a lua clareava bem
As noites de contos
De assombração.
Era um monte de gente
Ao redor da montanha de feijão.
Debulha e fala.
Debulha e ri.
Debulha e chora.
Era uma parola só,
Numa diversão única,
Porque não se via outra.
Mas eu tenho saudades ainda assim.
Da comida da vovó,
Das fugidas com os primos,
Das casinhas sem móveis
Debaixo das moitinhas.
A gente caçava joaninha em tempos de chuva,
E corria todo o lugarejo
Debaixo de um toró.
Correndo.
Pegava unha de gato,
Comia a florzinha da raposa,
Passava na casa mal-assombrada
E metia o pé na carreira.
Gostava até de pegar água na cacimba,
Longe...
Porque éramos pequenos.
Éramos donos do mundo.
Nesse tempo
Podia-se nada e se podia tudo.

Jane Santos

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