Seguidores

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Carta de quem quer que seja

Agora que tudo cala nesse dia
É interessante que eu me cale cá dentro
Com os meus fogos
E arroubos
Inapagáveis.
E deixo que se exumem
Os barulhos das bocas e dos pés,
Permitindo ser
Forçoso me cale um instante só
Para revelar,
Um instante só,
O ser que não sabem ainda.
E por não saberem-me de verdade,
Deixo que falem
O que eu poderia passar a ser.
E para isso
É de importância suma
Que se consumam uns livros tais,
Que se derramem na mesa tosca
E conceitos sejam escritos,
E sejam revistos jornais,
Papéis perdidos,
Palavras soltas.
Deixo minha alma esvaziar-se
E ser preenchida
Pouco a pouco por aqueles
Que querem me trazer à vida.
Ledo engano
Quando evocam a toda hora.
Nem eu mesmo soube o que era
E que o poderia passar a ser
E o que morri.
Eu era um aqui e outro ali,
Ontem e agora.
Eu nunca fui o mesmo
Se cresci.
Eu mudei e isso cobra
Muito tempo para uma ciência
Que não acompanha meu passo
E meu penso.

Jane Santos

Nenhum comentário: