Seguidores

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

O dia de Margarida

Margarida acorda cedo
Tanto quanto o gato que lhe acompanha
Roçando em suas pernas
Com miaus
Por uma comida sem graça.
E ela em paciência sei lá como
Diz espera, Bonito
Já vou, Bonito
E Bonito miau.
Sabia nada Margarida que o dia
Era pequeno demais
Pra tanta paciência.
Mas ela ia
Pouco a pouco se emaranhando na cozinha
Preparando o de comer só dela
Porque a solidão era grande
E pela janela só passava vento,
Vento que o Bonito também via
Mas nem ligava
Porque na bacia tinha comida
Sem, graça sim,
Mas matava a fome.
Ah! Se Margarida soubesse
Que em sua casa pequena e agoniada
Ainda cabia amor
Ela sairia da cozinha e iria ao espelho,
Viria o desespero dos cabelos tão belos
Mas dormidos ainda.
Viria o contorno triste
Que o silêncio dá
À face.
Se Margarida soubesse que outras bocas sentem fome
De sua comida
Sairia à feira mais bonita,
Mais caprichosa
E trocaria intenções.
Ah! Mas Margarida passa o dia e nem se nota
Que a porta continua fechada
E ninguém, mas ninguém
Diz oi de casa,
Nem assovia à janela,
Nem assusta o Bonito.
Ah! Pobre Margarida solitária e feia,
Envelhece e morre
Frente à novela,
Onde os amores ocorrem,
Onde os beijos a entretêm.
Mentira.
Mentira, Margarida!

Jane Santos

Nenhum comentário: